quarta-feira, 26 de agosto de 2009

FUNK CARIOCA EM CONSULTA PÚBLICA, POLICIA MILITAR DE CÃO PRA TRÁS, SOCIEDADE CARIOCA DIVIDIDA E O POETA A GRITAR: Discrimina Não heimmmm


FUNK CARIOCA EM CONSULTA PÚBLICA, POLICIA MILITAR DE CÃO PRA TRÁS, SOCIEDADE CARIOCA DIVIDIDA E O POETA A GRITAR: Discrimina Não heimmmm

Há alguns anos atrás, convidado por Bruno Catoni (na verdade houve uma gentil intervenção em meu favor, de Cezar Bellieny, do EletroSamba, um meu herói e Imperador da Rua 4, aquela que se encontra com a minha Bela Vista), participei do Festival Internacional de Poesia, no Circo Voador/RJ, Poesia Voa.

Lá, espantado com um sem número de formas e maneiras expressar a poesia, pirei e vi espantado, diversos poetas saírem revoltados com as apresentações, leituras, dinamizações, performances, declamações, declarações e inspiradas formas de se apresentar um poema.

Lá, acalorado e tomado pela volta toda, vibrei junto a Caio (meu filho)...Nesta oportunidade também brilhou o Desmaio Publico (coletivo de poetas de Nova Iguaçu), que estava lá quase que completo.

Na hora em que o Bruno Catoni apresentou, a Poesia Funk, foi uma saraivada de vaias que muito me fez lembrar os festivais estudantis e o da Tupi, pareceu ainda os pipocos que geram aquelas invasões surpresa da segurança pública às comunidades/favelas, tomadas pelo tráfico...Muito barulho e debandada geral...E desta feita não foram somente os poetas já editados, velhos senhores e seguidores da cartilha de regras da literatura brasileira e européia não, pois também, aqueles que haviam chocado, aqueles outros poetas, que debandaram antes, também se movimentavam aos gritos de revolta e contrariedade.

Mas, de nada adiantou tal efusão geral...

Apresentaram-se vários funkeiros e, entre eles inclusive, uma cantora do funk proibidão erótico pornográfico explicito...”mete o pau na minha buceta. mete, mete, mete....”...E pra lá disso...Caio me olhava e eu hó!!!fingia que nem tava ali...

Apresentaram-se também outros artistas do gênero funk, com a camisa da poesia funk carioca. Entre eles Cidinho e Doca, tradicionais funkeiros que podem ser chamados de roots funk e ainda os MC´s Junior e Leonardo com seu Rap das Armas fazendo, inflamado discurso em favor do desarmamento e pró funk racional e sem apologias - além de me dar a maior moral ao chegarem até este poeta menor, para elogiar o poema Favela Chic, que eu havia declarado momentos antes e que pediram para musicar.

Declarei dois poemas, bem ao lado de Marcelo Peregrino, que sou fã também, vestido de trovador e tocando rabeca. Fomos os únicos poetas solo a representar a Baixada Fluminense (ele por Nova Iguaçu e eu por minha Belford Roxo).

Bem, deste momento bacana da história deste que vos escreve, até a idealização, produção e realização dos Sarais Poesia Na Varanda e Poesia Na Câmara, correram bem uns quatro anos.

Batizado e ungido, por visitas a tantos outros sarais e acostumado já, com a idéia da poesia livre...diversa....espetacular...Fiz na Câmara Municipal de Belford Roxo, na edição de agosto de 2008, a poesia funk de MC Dayana...Sem maiores problemas, criticas e rebuceteios....

MC Dayana, corre a vida com uma beleza e charme incríveis...Bela voz e talento em funk politicamente correto....

Também no Sarau Poesia Na Câmara, aconteceu a poesia Rap com os Rapers Slow (esquadrão Zona Norte) e Edy MC (do Nocaute) e, ainda em outra oportunidade chegou o Nego do Rap e Sua Banca e N´dy Rapper, a poesia Blues com Oswaldo Coyote, a poesia Reggae com Dida Nascimento e a poesia pop com Seu Mathias e Panela Zen também foram ao parlamento.

A cultura vai se fazendo, formando, refinando e dividindo tal qual o processo de meiose que é um expandindo e multiplicando de uma mesma veia fértil que se desdobra e desdobra...A cada circunstância de fertilidade e/ou infertilidade social acorre uma expressão artística que dá identidade a determinados atores sociais e a determinada área geográfica

A Cultura e arte são, um plantio, que em terra bem cuidada, dá um resultado sócio-antropológico maravilhoso - lucro social puro em pura identidade lavada em auto estima.

A segurança do Circo Voador e as policias cariocas não impediram a poesia funk do Poesia Voa. A segurança da Câmara Municipal de Belford Roxo, não impediu a poesia funk e nem a poesia musica do Sarau Poesia Na Câmara...

Mas a Policia Militar, carioca, através de seu comando e com suporte da Secretaria de Segurança Publica e toda a sua força armada e inteligente, ousou peitar e proibir com lei própria e produzida em gabinete de um Quartel General, tal qual fossem, edis ou deputados, tal fossem legitimados representantes da produção de leis a execução de bailes funk, nas favelas cariocas, com a alegação de que a violência urbana aumenta antes e após dos bailes.

Em 13 de julho de 2009, publicava em primeira página o Estadão: “PM anuncia ação contra bailes funk ilegais no Rio/ Pesquisadores e moradores das favelas criticam censura, policia diz garantir ordem publica”

Merecem, mesmo aqui, nesta página...Um célere e celebre espaço de silêncio pela ousadia atrapalhada e uma vaia pela infantil trapalhada.

A tese da policia, seguida em jurisprudente fileira de ações de interesses particulares e públicos, que acabaria, simplesmente com todos os eventos esportivos de futebol no Maracanã, para não citar outros estádios da cidade do Rio de Janeiro, bailes em clubes, boates, shows na Fundição Progresso, Canecão e afins...Mataria a Cidade de tédio e tristeza.

A natureza da proibição sequer é de segregação é mesmo de extermínio...E pior...De negação...De negação de uma verdade...Negação de uma cultura já estabelecida e reconhecida pela população do Rio de Janeiro e de outros Estados, reconhecida e aplaudida por vários outros países, pela mídia que já a incorpora a novelas, especiais, comerciais e programas de tv...Até o Roberto Carlos já cantou funk em horário nobre.

A negação da verdade, parece-me, bem pior que a própria aceitação dela, pois que, querer a força dar razão de verdade a negação, que não tem força para ser aquela, de forma oposta...A invasão das favelas pelo corpo armado do Estado, pressupõe entender, que acontece, pela garantia dos direitos e deveres individuais, daqueles que vivem naquele espaço geográfico e daqueles que vivem no chamado "asfalto" e, deveria primar pelas liberdades individuais e de expressão daqueles que habitam os dois ambientes...Morro e asfalto (embora favelas existam em locais fora dos altiplanos).

Esmagar uma expressão que surge, de forma natural de meio segregado é dar uma segunda ou terceira e quem sabe quinta potência, ao processo de encurralamento a que estão obrigados, os cidadãos moradores das favelas...E como diz o Rappa em letra de Marcelo Yuka: “menos de cinco por cento dos caras do local desenvolvem atividade marginal...”

Não é somente o funk uma musica marginal segundo quer mostrar a policia, algumas autoridades e seguimentos da imprensa e sociedade civil organizada, é também o morador da favela um marginal e é também esta demonstração de expressão de cultura uma expressão marginal e é a musica e dança e atividade uma ação marginal...Pior marca e ferida imposta, só mesmo a dos Bantustões sul africanos...

Rastilho de pólvora, coquetel molotov, ônibus queimado... e comunidade na rua é, o que querem eles...Pra passar o cerol em geral, como é noticiado...Todo Santo dia...

A sociedade civil organizada (a parte que quer liberdade de expressão e de espaço), recorreu aos seus, os artistas envolvidos nesta expressão se articularam, intelectuais, acadêmicos e estudiosos do fenômeno social, chegaram junto, parlamentares postos contra a parede, acordaram e agentes do interesse econômico, lucro, que a matriz funk gera, investem na briga...

Em Audiência Pública na Alerj, ontem dia 25 (como mostra vídeo incorporado), o debate chegou a conclusão parcial de que em Setembro será votado Projeto de Lei, para tornar o ritmo um Movimento Cultural, Social e Musical do Rio de Janeiro e para tornar nula a lei que proíbe os bailes funk.

Há algum tempo atrás, falando do novíssimo Secretário Municipal de Cultura de B. Roxo, senhor Rômulo Costa e da revolta que a indicação e assunção do cargo gerava para todos nós agentes, militantes, artistas e gestores culturais, para meu amigo Lazão do Cidade Negra, fez ele o comentário de que em reunião em que esteve presente junto a MV Bill, o Rômulo Costa, autoridades e o Presidente Lula, que Rômulo, teria já ali, levantado à bola de se ter nas escolas publicas, o funk.

Não sei, qual será a idéia e de que forma irá funcionar, caso seja aprovada esta lei. E penso que toda força criadora que empreguei neste texto em favor da queda da lei que proíbe o baile funk, que vejo como sendo escrota, ridícula e discriminatória não se volta em igual teor de sinergia, para defender sua inclusão como matéria escolar, posto que se assim for, fica aberta porta e jurisprudência para também se pleitear outras expressões de caráter secular e atemporal sejam inseridas à grade escolar( estas entre outras questões)

Mas, a atitude de Marcelo Freixo, deputado pelo PSOL (RJ) é tão louvável, quanto à de outros parlamentares envolvidos na questão, bem e assim como, a dos acadêmicos, músicos do funk ou não, empresários e demais interessados na demanda positiva pelo respeito e descriminalização de uma expressão legítima.

Segue aqui, meu Não, a negação do intolerável social, estigma e definição, impostos pela falta de justiça social, que fala através da força coercitiva da Segurança Pública, nítida prova do asco e da incompetência na gestão do transversal curso da cultura , com a educação, com a assistência social, saúde, segurança e falta de reconhecimento do antropológico contra movimento social, exposto em postas à mesa da ingovernabilidade carioca que mostra seus enclaves apenas em noticiários criminais.

Lembro ainda, que a ação noticiada e a solução que está por vir, não pode privilegiar somente as favelas da Cidade do Rio de Janeiro...Pois que aqui e em outras periferias e principalmente na Baixada Fluminense é, costume policial, derrubar e atirar no equipamento e nas caixas de som, da equipe contratada.

Um comentário:

Unknown disse...

Sou contra a proibição dos Bailes Funks, é arbitrário. Mas acredito que um movimento artístico-cultural se crie naturalmente e se desenvolva de forma autônoma, adaptando-se a cada circunstância do cotidiano e do momento histórico que se vive. Bem... o movimento funk me parece fruto de uma manipulação política do passado a fim de desmantelar algo que já existia e apresentava algo de organizado quanto a questão histórica do negro e a imbecil discriminação. Vejo que o popular nesta questão é conduzido pela mídia e que na maioria das vezes quando o movimento rompe as barreiras do social, atingindo a classe média, mais uma vez é mascarado e cumpre o papel de entreter aqueles que não estão nem aí para a questão da pobreza da comunidade.
Não me surpreende o funk ser hoje um movimento tão Eros e lúdico, visto que ele representa o resultado de tantos fatores dos quais a população é privada, principalmente: EDUCAÇÃO. Ninguém precisa fazer do funk um movimento cultural, ele já o é de fato, isto pela adesão do povo. E isto eu acredito ser bom, pelo menos para o povo, pois se ele o escolheu e o tem, que seja. Mas usá-lo como tema para discussão, transformá-lo em disciplina escolar, de longe é um interesse, ao meu ver, de transformação. Precisamos analisar os interesses e interessados por trás disto, visto que com certeza tal iniciativa não teve origem no funkeiro, que vive "muito bem", alheio aos conceitos acadêmicos de movimento cultural. Fala-se em incorporação do ritmo como disciplina, mas não há ênfase quanto a redução de 12% para 7,5% na mudança de nível no plano de carreira do professor e o descaso com outras categorias, o fim do IASERJ e outras indecências. Então que seja.
Funk-se.