HISTÓRIAS DE BAR
O Ferramental dos Gestos
e da Palavra

“ontem, domingo dia 04 de
novembro de demiledoze, tentando curar uma tristeza e solidão inefável, que me
invadia a cabeça, tronco e membros, disputei um pedaço do balcão da birosca do
Lourival...Uma Antarctica e dois pedaços de costela, pedi...E iniciamos o papo,
sobre tudo que se pode imaginar, já quando estava, na segunda cerveja, surge um
conhecido que por hora não lembro o nome e, pediu um conhaque no que dupliquei
meu pedido...Lourival, bota um pra mim também e traça com catuaba – o melhor remédio para
sentimentos inefáveis é perder a razão e perder a razão, para este poeta menor
é ficar em estado alterado de mente, com álcool – ato contínuo, contei a
história de minha experiência pessoal com um “brandy”, o verdadeiro conhaque,
que provei oferecido por meu irmão, lá no Rei do Cozido, na Vila são Luiz, em Duque
de Caxias...
A esposa do Lourival se aproxima
e pergunta: - como é esse teu som com efeitos e telão?...Expliquei e já
emendamos no papo sobre pagamentos, falta de pagamentos, pedidos de desconto, desconsideração
com a importância de um som numa festa, intromissão dos convidados nos sets de
musica, o fato comum e a quase obrigação de usar os vários pen drives que os
convidados costumam levar para as festas, para ouvir a musica que gostam, em
detrimento da musica preparada e sugerida pelo “dj” da festa e/ou das musicas previamente
acordadas com o dono da festa e, ainda sobre
o fato, de que atualmente, quase todos
os “garotos’ que tem um computador em casa – seja desktop ou notebook – terem, instalado, o programa virtual dj – que é free – e se
pensarem “dj´s”, fato que os torna verdadeiros pitaqueiros nas festas...
A este comentário, somei rindo,
um outro, que deu origem ao que este prolixo texto, quer fazer referência: - e
o pior é que eles não se preocupam em comprar um equipamento de som...O
investimento é meu e a onda tem de ser deles...
O amigo que chegara e no momento
já dividia comigo uma outra cerveja, emenda: - não há trabalho sem ferramentas,
eles tem de ter as suas próprias ferramentas...Pois é, completo, rindo ainda
mais, com as mãos e os dedos só escultura em barro ou massinha...
O amigo, continua, num falar
bacanudo, que somava o sotaque pernambucano e o gestual mover de corpo que era
seguido pelo dançar lento e mágico das mãos, que ostentavam um anel em cada
dedo: - quando eu sentei praça no Exército, lá no 14 RI de Recife, um sargento
levou a gente pra faxina, que demorou muito a ser completada, fato que levou o
coronel comandante a ir até nós e perguntar por que ainda estávamos naquele
ponto e, eu respondi, como é que eu vou transformar a minha mão em pá para
recolher o lixo? – o sargento enlouquecido disse que me puniria, pois além de
eu não ter pedido permissão para falar, não se podia responder assim, ao coronel...E o coronel me deu três dias de
dispensa, óh!...Quando eu voltei, ele me perguntou por que eu havia respondido
daquele jeito e eu lhe disse, meu coronel, sem as ferramentas certas o homem
não progride, pois que, até os índios e
os homens das cavernas usavam ferramentas e ele me disse volta pra casa e fica
mais três dias...
E rindo, continua, quando me
apresentei de volta ele me perguntou, você quer servir a mim e a minha família
em minha casa?...É claro, meu comandante...E desde aquele dia nunca mais botei
os pés no quartel e usei farda, servia somente ao coronel e a sua família, lá
conheci a sua filha e, estou casado com ela faz 40 anos...óh!