segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

VIOLÊNCIA

Resolví postar o depoimento que segue por acha-lo tão forte quanto a onda de ataques de Israel contra os palestinos (Os membros do Hamas são palestinos)... E por ainda representar em forma de amostragem a violência que nós negros vamos sofrendo em nossa caminhada até o amanhã...Por representar ainda a forma como a segurança publica nos trata (embora se diga na tv e nos meios de comunicação ao contrário) e ainda a todo o conjunto da sociedade...Que está a mercê deles...Os donos da rua...

Ele vem do Dinho K2 que é do Observatório do Hip Hop (http://www.observatoriodohiphop.org.br/)e conta um fato que se repete muitas vezes a cada dia neste nosso Rio de Janeiro qui ça no Brasil inteiro:

Uma onda violenta de assassinatos têm acontecido em todo o Brasil. Lideranças negras, quilombolas, terreiros, moradores de favelas, funkeiros, hiphoppers, entre outros, com um agravante, todos são negros.
Muitos fatos, com mortes, têm sido denunciados... nós que somos e prezamos pelo povo negro não podemos ficar vendo os nossos iguais serem massacrados... seremos os próximos.

Muita força e sabedoria na organização do LEVANTE.


Dia 20, por volta das 2 horas da madrugada voltando da casa de um
amigo, acompanhada de meu marido, Umberto. Estávamos pegando o ônibus
em frente ao restaurante Capela na Mem de Sá, Lapa, o corredor
cultural da Cidade do Rio de Janeiro, quando ao tentar entrar no
ônibus todo o terror começou.

Percebi que dois policiais tentavam retirar do ônibus um passageiro,
que gritava para as pessoas na rua pedindo ajuda. Ofereci ajuda
pedindo que ele me dissesse seu nome e algum telefone para poder
avisar alguém de sua família.

Meu marido, que já estava dentro do ônibus, ao me ver envolvida
naquela situação desceu do vindo em meu socorro, já que os policiais
estavam me empurrando. Eu tentava argumentar com os policiais pedindo
calma, quando olhei para trás vi que Umberto estava sendo agredido já
com a boca sangrando e sendo algemado. Imediatamente me coloquei entre
o policial e ele e acabei recebendo um empurrão do policial que me
jogou ao chão, Umberto que estava sendo asfixiado foi jogado dentro da
viatura do 13° batalhão, n° 520856, juntamente com o passageiro que já
se encontrava algemado.

Nesse momento, percebi que algo de muito grave poderia acontecer
comecei a gritar que eles iriam matá-lo, não passava outra coisa em
minha cabeça, as pessoas ao redor pediam que eu me calasse, pois as
coisas poderiam piorar, alguns me seguravam para que eu não impedisse
a saída da viatura, acho que pensavam que estavam nos protegendo, mas
eu gritava cada vez mais alto repetindo que eles iriam matá-lo e que
eu iria de qualquer jeito com ele na viatura. Algo se passou entre
eles, e, os policiais então disseram que eu entrasse logo na viatura.
Lembro de um casal que disse que nos seguiria de carro.

Ao chegar na 5ª Delegacia, fomos recebidos pelo delegado que entrou na
recepção, muito provavelmente por causa do meu desespero prontamente
me ofendeu, dizendo que na delegacia dele prostituta não fazia
escândalo. Percebemos então que ainda não estávamos seguros e que
também que nenhum policial estava com identificação, neste momento
enquanto Umberto ainda estava algemado tentava argumentar com os
policiais o que o sargento retrucou dizendo que a ele teria que brigar
com o Estado e não com ele.

Comecei a ligar para todo as pessoas que poderiam nos ajudar, até para
que nossos amigos soubessem onde estávamos. Depois de muita espera, os
policiais começaram a dar seu depoimento, segundo a informação do
delegado eles por lei tem prioridade. Um dos policiais alegou que
havia recebido um soco no rosto, mas como pode uma pessoa de cor
branca levar um soco no rosto e não ter nenhuma marca?

Em um determinado momento, o sargento da polícia militar que deu voz
de prisão ao Umberto se dirigiu a ele ameaçadoramente exigindo que ele
entregasse seus documentos, dizendo, "fui eu que te prendi e estou
querendo seu documento", novamente me desesperei parecia que o
pesadelo não teria fim, entrei na sala do delegado e perguntei se esse
era o procedimento correto, se o policial militar tinha esse direito
dentro da delegacia ou se era dever do inspetor. Com essa minha
atitude o delegado pediu que seu inspetor interviesse e chamou o PM na
sala dele policial para conversarem. Enquanto esperávamos o momento
do depoimento Umberto, se sentou ao meu lado e me falou que o policial
militar disse várias vezes enquanto o estrangulava, na viatura, que
iria matá-lo, eu estava certa ao gritar que eles iriam matá-lo.

Após muitas horas de espera meu marido e o outro senhor deram seu
depoimento. Tudo foi concluído por volta das 7 horas da manhã, quando
só então pudemos ir para o Instituto Médico Legal para exame de corpo
de delito, onde novamente encontramos com o policial que agrediu meu
marido, olhei bem para ele a procura de marcas no rosto e não
encontrei nenhum sinal de agressão.

Por volta das 10:30 Umberto foi atendido pela perita que registrou
todos os detalhes, mas não pode fotografar nada. Saímos do Instituto
Médico Legal por volta das 12 horas, quando finalmente, podemos
retornar para casa depois dessa noite macabra.

O mais perturbador é que tudo isso aconteceu porque o passageiro que
foi preso junto com meu marido ao tentar embarcar no ônibus falou aos
policiais com os policiais que eles estacionaram a viatura em frente a
ponto do ônibus atrapalhando o embarque das pessoas e que eles estavam
errados. Por isso passamos por todo esse terror!

Umberto Alves e Louise Silva



"SE NÃO HÁ CURA PARA VIVER E MORRER, O REMÉDIO É SABOREAR O INTERVALO."