sexta-feira, 1 de julho de 2011

A Arte Imorrível



INICIO DO CREPÚSCULO MATUTINO DE ALGUNS E FIM DO CREPÚSCULO VESPERTINO DE OUTROS...QUISERA FOSSE TUDO SOL


Á Otacílio Farias, O Nosso Cilinho


Nasci em São João de Meriti. Numa cama da casa de meus avós maternos – Virgínia e Jovelino – Nasci de parteira, coisa comum nos idos anos 60, mas meus pais, já eram moradores de Areia Branca, assim, cheguei aqui, recém nascido.

Sou de Areia Branca, desde o tempo da Maria Fumaça, espetaculosa composição para transporte de massa, que cheguei a viajar em companhia de Dna Maria e Seu João, vizinhos do lado de casa - que me tratavam como neto e eram criadores de abelhas (apicultores) – para ir a Jaceruba.
Quase lembro do dia, quase lembro da viagem, quase lembro da fumaceira e da composição. A coisa é meio sinistra em minha memória tão enevoada quanto o ar por onde passava a Maria Fumaça, uma minhocona negra e gigante...Bonita lembrança de bonita imagem.

Por brincar nas ruas de meu bairro – não muito à vontade e liberto, posto que a mama Jurema, era daquelas que pegavam no pé – conheci muita gente, muita lida, alguma moda e movimentação artística e esportiva da região. Por viver sem muita liberdade e com corrente nos pés e cabresto nas vontades, não me relacionei muito de perto, com as movimentações que via nascendo.

O que é fato é que muitos dos grandes artistas e esportistas que esta terra viu nascer brincou, comigo de bola de gude, esteve no mesmo trenzinho durante as voltas em torno do coreto que se armava na praça de Areia Branca, durante o Carnaval – financiados pelo histórico morador e vereador Ziza – Aquele Que Não Promete Realiza (Na sacanagem maldosa de antigamente: Aquele Que Não Mete Alisa), sentou no mesmo banco da escolinha jardim de infância, foi colega do primário ou do ginásio ou ao menos cruzou meu caminho e/ou eu, o dele em alguma das atividades infinitas, que jovens, inventávamos.

Muitos destes artistas e/ou desportistas/esportistas conseguiu fotos e matérias em jornais locais e/ou de nível regional, outros apareceram em noticiários e programas de TV, alguns gravaram disco e por algum tempo viveram deste trabalho sem preço que é a criação artística, mas a grande maioria soçobrou diante do esquecimento, abandono e desprezo.

Quem lembra do Nanau e sua grande voz? Quem lembra do Zé Maria, musicista dos bons, irmão do João Mathias (Panela Zen) que ainda resiste preguiçoso e talentoso na arte da musica ...Lembro-me da música que inscrevi no Festival de Musica do ABEU, como se fosse minha, posto que era um Festival, só para alunos...” pó, pó, pó poeiraaaaaaaaaa”...Musica linda e exuberante...Cadê o Nanau?.

Por onde anda o Milton Russo?. O ilustre professor de violão da maioria da galera da música em Belford Roxo/Pian/Areia Branca e adjacências?. Sei que Milton Russo vive da música, toca na noite, mas poderia tocar para a noite, encanta-la junto a todos nós...E o Ulisses, o show man, que foi da Banda Black Rio (vocalista), do Cidade Negra (backing vocal), direto dos bailes do Embalo´s Clube para as luzes e palcos do Brasil. Cadê Ulisses? Cadê Moisés? Cadê Ferrinho?...E Aqui ousei chegar até Nilópolis...

Quem virou estrela, não voltou a terra para buscar os pobres mortais de artes imortais e a cena não se mantêm ou se afirma.

A maior parte dos artistas que passaram pelo Centro Cultural Donana, o Histórico Aparelho Cultural, talvez o único a existir desde os idos anos 80/90 em Belford Roxo, catalisador e centralizador de muitas ações e emoções, que foram estudadas pelo Sociólogo André Leite, Na obra "Memória Musical de Belford Roxo", que se fizeram ser referência do livro do Calbuque, que será filme no olhar de Cacau Amaral (um dos 5 X Favela) e eu pergunto novamente por onde anda Nino Rap? Do BlackOut/Nocaute, por anda anda Ed MC?. Por Onde anda o Sandro do Baixafrica, O Gui, o Liu?. Alguém sabe de alguma atividade artística do Praxedes Belford?, E eu falo de atividade artística séria e não a sacanagem de fazer uma festa mal organizada, que surgiu, na falta da verdadeira Festa da Consciência Negra.

E o Sylvio Neto?...Ainda Canta...Encanta...Faz Música?...É reconhecido como alguém que somou seu brilho ao lado bom da força?

Os artistas locais, colegas, companheiros, parceiros ainda lembram das colaborações, dos patrocínios, das participações e intervenções, feitas com o carinho do coração aberto e com a verve das vísceras espostas e jogadas avanço?

Lobão, da Churrascaria Lobão. Emérito e aguerrido produtor de eventos musicais históricos nesta Baixada de Nosso Senhor da Jacutinga. Por onde anda este guerreiro? E a Roberta do projeto Na Mosca, largou a produção e foi cuidar da própria vida, enquanto pode...
O Edson Bombeiro, ainda canta? ...Qual o Por Que, de seu ocaso?...Gravou disco?

Antes fossem todos estes artistas citados e, outros que perambulam neste momento, por minha memória sequelada e, ainda os outros verdadeiramente esquecidos, por este, que conviveu com a cena...Tanto portentosos e poderosos quanto o Di Melo...Quisera fossem também, Imorríveis...
Antes, que deitados no ocaso, pudessem todos ressuscitar e, tal este talentoso artista, injuriado pela gravadora, como foram tantos daqui Negril, Cabeça de Nego, Nocaute (concorreu com uma musica ao Grammy Latino) – trio de bandas que ao mesmo tempo participou do Rock in Rio, e abriram vários shows de consagradas artistas brasileiros, tais quais, Cidade Negra/Gabriel Pensador/Paralamas do Sucesso/O Rappa entre outros, todos filhos desta Belford Roxo/Pian/Areia Branca – 5 Kilates, Maria Preta.

Antes pudessem todos renascer, para encantar com a força desta nova mídia que alcança com força muitos lares brasileiros com o poder da internet, com o poder da televisão a cabo, com o poder do rádio e com a convergência dos telefones inteligentes.

Di Melo, após audição com o já renomado Jorge Ben, hoje Benjor, lá pelas bandas de 75, pode ter sua oportunidade, com uma simples indicação. Assinou com a antiga Odeon, que viraria EMI-Odeon (A musica dos Sex Pistols, não surgiu à toa). Fez sucesso, até o ocaso, provocado pelo vilão de sempre Empresário/Produtor/Editor (diga-se gravadora)...

No silêncio e no escuro resistiu ainda com sua arte, compondo musicas, poemas e peças artísticas em madeira, até ser reencontrado por Dj´s estrangeiros, que lhe deram uma sobrevida nas pistas de dança do mundo, com a descoberta de seu raro e único disco, Di Melo, produzido pelo não menos talentosíssimo gênio da música o bruxo, Hermeto Páscoal, o long play tem a moral de aparecer no clipe da musica Don´t Stop The Party, dos Black Eyead Peas.

Roberto de Melo Santos de registro e Di Melo de nome artístico, é puro swing e no curta de Alan Oliveira e Rubens Pasáro, Di Melo, O Imorrível, finalizado em 35 mm e com 20 min de duração, ressurge com imagem e som, para as telas e o mundo.
Di Melo, anuncia ter mais de 400 composições inéditas e eu cá de minha alcova (quarto cheio de livros, cds e teias de aranha) torço para que ele tanto quanto meus irmãos de arte e musica, os de Bel e os do mundo, consigam sua sobrevida e chance...Torço para que não desistam, para que não morram de tristeza entregues a bebida, droga, depressão e rancor.
Com fervor segue este post, que linka o pernambucano Di Melo aos fluminenses jacutingas desta minha Cidade Belford Roxo, dono de uma esperança que não brilha em meus olhos mais que pulsa em meu coração.

Segue o água na boca do filme de Di Melo, O Imorrível