segunda-feira, 2 de agosto de 2010

MINHAS EMOÇÕES VÊM A FLOR DA PELE COM O COLLATERAL MURDER OU MELHOR DIZENDO CHACINA REAL


Prisioneiro, dos moles que andei dando ao longo da vida, rumino hoje, idéias, pensamentos e sentimentos que me têm, assustado – Não se preocupem, não está a nascer no poeta um malfeitor tais quais os típicos homicidas da Baixada Fluminense ou ainda um prototerrorista e/ou cabra sanguinolento, do nível.

É que, algumas emoções por vezes se exacerbam, me assoberbam, arrebatam...E se bem me lembro, em Ética a Nicômaco, Aristóteles pede cuidado com as paixões.

E eu tenho andado assim, apaixonado por certas emoções e completamente inerte, morto, despreocupado com outras...Algumas coisas me doem tanto e tanto, que choro...Na minha solidão de poeta outras não me doem nada e eu fico olhando o tempo, a volta...Preocupado na minha condição de ser humano.

Estava costurando mentalmente um outro texto para postar hoje ou amanhã...Mas a leitura do post, do jornalista Marcelo Ambrósio, do JBlog, Jornal do Brasil, Collateral Murder, me mudou a paixão...Emocionado vou caminhando pra outra ponta da colcha de retalhos que iria costurar.

Tempos atrás, postei tratando do Arturzinho, meu sobrinho que completou 4 anos, no final de julho...Há época (do post), estava ele a completar três anos...Tratava o post de seu tamanho, atitude e de um novo complemento a seu vestuário, uma bota ortopédica, que lhe somava forças...Há época vestia ele o numero 5, calçava já vinte e alguma coisa...Hoje, veste 8 e calça 30. Continua a fazer das suas e é senhor daquelas boas emoções que me tomam:
· Semana retrasada no sítio, um dia após a comemoração de seu aniversário (Festa do Homem Aranha), um domingaço de sol, ao ver ser colocada à mesa, uma enorme bandeja com salgadinhos diversos, danou a comê-los, “a uma velocidade estonteante”, mesmo com as ralhas da mãe, pai e avó...Só parou quando, meu mano do meio disse: Arthur, você vai explodir e começou a rir. A ação do pequeno gigante, foi emocionante, posto que se debruçou sobre a mesa, tal qual éramos obrigados a fazer nos tempos da escola primária e disse olhando a bandeja com vontade de devorá-la: Vou parar de comer, se não, a minha cabeça, vai explodir...Maravilha de garoto...
· Em dado momento recentemente, mandou o irmão “tomar no rabo” (desculpem a insensatez, mas eu adoro quando ele xinga), seu pai, aquele meu irmãozinho de 125 kg e a mãe...Partiram pra cima...O que foi que você falou?...Eu falei vai “tomar no rabo”...Mas, não pode é palavrão...Não é não...É sim e se você repetir vai apanhar...Mas, mãe, é “vai tomar no rabo do coelhinho”...O rabo do coelhinho é palavrão mãe? – Têm preço isso?

No retorno à casa, por conta de umas contas mal feitas e por falta de grana, no único caixa eletrônico, de Parada Modelo, que funciona, dentro, do Mercado Verone (fechou o mercado, fechou a bica que solta a sua grana que está na caixa d´água do mercado financeiro, que seu banco representa), fomos obrigados a gastar mais combustível passando ao largo da praça de pedágio.

A volta, passeio custoso, por bairros de Magé – saímos da rodovia e pegamos a entrada de Piabetá, e para isso, é necessário atravessar, alguns obstáculos, o primeiro é uma chicane, feita pela concessionária que comanda a Rio-Teresópolis/CRT - trouxeram imediatamente repúdio, raiva, dor. A pobreza é enorme e escandalosa, extrapola qualquer emoção momentânea trazida pela música do rádio, conversa animada, gracejo ou choramingo de criança dentro do carro.

O contraste é absurdo...São centenas de casas mal acabadas, envoltas em lixo e mato...Da natureza autóctone, a Mata Atlântica, já naum resta nem traços nem lembranças e é fácil observar o crescimento desordenado e desconfigurado de um planejamento de ocupação do espaço geográfico nas valas a céu aberto, ruas esburacadas (muito também, pela mesma ação que cometíamos, feita por pesados caminhões de carga), postes com fios embaralhados, casas com cercas de arame, outras sem nada que se possa identificar como uma fronteira – “este canto é meu” - contra algumas poucas, pouquíssimas, dahí, um pedaço do contraste, bem construídas e acabadas...O comércio, basicamente é de bares e biroscas que se servem a ser o que são e ainda um pouco de padaria, mercadinho, armazém, sacolão, loja de utensílios domésticos, material de construção e sei lá mais o quê

Anda longe daquela região de Magé, que é uma marginal e opção a Rio/Teresópolis, o planejamento urbano. A presença da Secretaria de Obras e Planejamento com algum mínimo que seja processo de urbanização.

Mas, o que há de maior e de mais gritante é a presença a cada rua – eu escrevi a cada rua – de uma espécie de totem de alvenaria com a logomarca de Magé...É incrível o que se poderia construir de útil para a população local, com tanto cimento e tinta, sem contar com o custo de mão de obra e manutenção...Olha!!! Aquilo ali, emociona viu...Dá raiva de votar, de não ser ninguém...De não ter força, voz, dedo em riste para acabar com aquilo...E que medo me dá estes sentimentos – Vocês acreditam que a violência resolva alguma coisa?...Claro que não, né?...Pois é, mas é através da violência que as oligarquias que se dividem no poder operam aquela pobreza, aquela dor toda que se pode ver e sentir...

Contei até cansar e/ou me distrair, mais de 15 totens, desde a saída da rodovia até novamente entrar nela...E em nosso caminho, não contemplamos rodar todas as ruas do bairro (distrito?).

Já nessa viagem expressa, sabia que havia sido assassinado em minha rua, bem na esquina, a 150 metros da casa do pai, um jovem de 20 anos que gostava de roubar, fumar maconha, hulk (crack com maconha) e andar armado...Havia sido solto há uns quatro meses, por esforço do pai e da advogada, sob os auspícios das brechas que a lei têm...Preso em flagrante que fora com um carro roubado: A notícia ganhou os jornais da época e até o escracho do Wagner Montes...Chamado de “Bandido Vacilão”, por ter admitido o roubo por conta de estar com dores nas pernas por tanto ter andado.

Sua prisão foi uma sorte, pois assim, não foi assassinado pelos traficantes do Castelar, local onde era Vasco e fugira com a carga, a grana e a peça.

Jorge Pé Pé é tão antigo na rua quanto eu existo...Sua mãe fora costureira e amiga de minha mãe, fazia ela nossos shorts (aqueles calções de pano fajuto com elástico no cós)...Com o Jorge e todos os seus irmãos e irmãs eu brinquei, desde bola de gude, peladinha, os piques todos e pipa até as danças do período junino – sempre orquestradas por seu Nilton...Jorge Pé Pé, é o pai, que perdeu o filho violentamente.

Eu, até hoje, não fui falar com Jorge e sua esposa...Não tenho coragem...Nosso cumprimento quando nos cruzamos, é assim: E eu ligo?...Com a resposta: Nem Ligo...Resquícios de quando ele ainda tomava uma rama arrumada...”Chora Neném!!”...Falava..Rindo...Chora Jorge, chora rua...chora...

Eu?...Eu nem ligo...E como pode? Como posso nem ligar?

Eu ligo pra dor do Jorge, da esposa, dos irmãos e família. Nem posso imaginar como é ficar sentado ao lado de um filho garoto, ensangüentado, com a cabeça destruída por 14 tiros...14 tiros que atingiram até seu hambúrguer, 14 tiros as 22:15 da noite, 14 tiros porque ameaçava ele, tanto quanto, ameaça os que o mataram a sociedade livre de um País democrático e sem pena de morte (que o Lula, tão bem condenou em discurso neste final de semana)...14 tiros que esburacaram o muro da Dna Vica (uma das maiores proprietárias de imóveis do Bairro e das mais antigas moradoras) e eu nem ligo...

Sábado, rodou mais um...Em frente a um Colégio Municipal, vizinho a sua casa...Morreu quase em seu portão...Mais um ladrão, safado, escroto...Mais um garoto, mais um menino...

Estava, eu, na esquina do Posto do INSS, perto da Fábrica de Roupas Esportivas do Amaral, o mais famoso produtor de roupa esportiva de Belford Roxo (além dele tem o Amarelo & Cia), um dos “caras” do Raça, a cara do Raça por ser o estilista e o produtor da roupa do time que representa bem o futebol de Belford Roxo...Estava, eu, na padaria bebendo papo com amigos...Quando ouvi os tiros...Bem próximo, bem perto...Ficamos atentos...

Os comentários e a correria da galera logo chegaram...A notícia nunca tarda...E vêm em tempo real...Real eu falei...Mataram mais um...

Soube mais tarde, já no domingo, que fora um ex aluno meu...

E eu nem ligo...Não é que não ligue, que não estarte, que não me eletrifique...Não é assim que devo me expressar...Eu ligo sim, ligo...Só não sinto...É isso..Eu não sinto...Porra!!!! Como posso não sentir...” Eu não to nada bem...Não mesmo”.

Há aqui e ali...Uma fábrica de matar...Não sei o que a movimenta. Se somente a simples vontade de matar ou se existem encomendas pagas...Ninguém investe capital próprio para tais ações (munição, gasolina, tempo de campana, créditos de celulares, tempo pessoal...etc)...Há que haver lucro na atividade...De onde vêm, por que vêm? Sei lá...Mas eu não sinto...Não sinto nada, por eles, os mortos tragicamente...

Caramba!!...Quando meu filho, à completar e comemorar seu aniversário foi duramente agredido, por seguranças, na Boate Via Show eu tive um surto...Ao olhar pro rostinho dele, todo inchado e ralado...Seus olhos feridos e esbugalhados em roxo forte...Eu morri...Eu senti...Por que será que agora, na morte do filho de um amigo e na daquele ex aluno eu nada sinto?

Eu não tô nada bem...

Semana passada, assisti a um filme que ainda não havia visto...De verdade, naquele dia da semana eu preferia não tê-lo assistido, mas em papo com o camaradíssimo Renato Aranha (Banda Espiral e Blog Eu Nas Palavras), troquei as bolas na indicação do canal do filme que eu veria – 12 homens e mais um segredo – que rolava na HBO e eu disse a ele Pipoca, que ao consultar o menu e ver que errei, me deu a dica sem saber que não era dia de assistir aquele filme...No Pipoca, tá rolando outro filme, cara, o daquele maluco que chega ao Brasil fugindo da guerra...?????...Fui olhar e fiquei por lá...O filme é “Tempos de Paz”, com Tony Ramos e Dan Stulbach, filme de 2009, dirigido por Daniel Filho (que também atua).

Eu não sinto dor, emoção dolorosa ou dolorida pela morte do filho de meu amigo...Mas senti muito ao passar pelo arredores de Piabetá/Magé...Não senti por meu aluno morto...Mas senti muita emoção com o filme Tempos de Paz...Fiquei olhando a atuação, a vibe do filme, o discurso do filme, a temática do filme...E ficava chorando...Deitava, sentava, ficava de pé...Andava e pensava que PUTA filme, que Puta filme...E chorava...

Eu sinto, eu sinto as coisas...Sinto além do que deveria.

Quer saber?...Eu soul negro...Soul preto – E assim sendo jamais deveria ter sentimentos racistas, xenófobos e discriminatórios...Mas ultimamente eu tenho ouvido tanto, lido tanto e chorado tanto com as dores palestinas, que nem liguei para um pedacinho do horror que o filme tratava também...Do horror do holocausto... Pois as dores dos árabes palestinos estão sendo impostas pelos judeus israelenses...E sei que pessoa sã...Não fala mal ou vai de encontro aos males do holocausto (e nem os escreve com letra minúscula)...Não soul anti semita, não sou não...Mas eu to puto com aqueles caras...Com todos...Não com a política só não, mas com a família inteira...Com todos eles em sua contemporânea diáspora voluntária para dominação do mundo...

Quando leio sobre o maior Campo de Concentração da História da Humanidade...Eu sinto muita raiva dos Israelenses...E tenho pensamentos que não revelarei aqui...Eu nem ligo para o holocausto, quando sei que um ocorre no agora, no hoje, no pós Declaração Universal dos Direitos Humanos...Na era pós Bush...Eu sinto raiva agora escrevendo...Muita raiva...Raiva de sua necessidade de seguir adiante, sobre Golias, sobre o Monte Sião (Zion) e o massacre aos Jebusitas, sobre as águas do Jordão e por sobre toda a política, diplomacia e gritos do mundo...O querer ser e ser Davi, esmagando a tudo e a todos por um propósito, todo o tempo, me deixa irado...E olha que estou ouvindo Lisa Stansfield e não Napalm Death, Wagner ou Garotos Podres...Com esta raiva de agora, com esta paixão que me devora a razão...Cabeça, tronco e membros eu choro e nem ligo...

Eu não to nada bem...
Eu sinto demais as coisas, tenho dores que não são minhas...Não durmo...

Ontem, assisti mais uma vez ao filme “Um Lugar Chamado Notting Hill” (Julia Roberts e Hugh Grant) e pela primeira vez ao "Jean Charles" (com Selton Melo, Luis Miranda, Vanessa Giácomo) ...Os dois estavam passando ao mesmo tempo...Com um pequeno lapso apenas...Vi aos dois...Por já ter assistido Um Lugar Chamado Notting Hill eu deixava escapar mais tempo com o Jean Charles...Eu chorei de novo...Putz...To muito chorão.

Fico emocionado com filme...Com a morte covarde do Jean Charles, cara de quem eu nunca saberia ou conheceria decerto (bem, tem essa história do plano cartesiano...mas), se não fosse a tragédia e eu senti e chorei...

Não chorei pelos garotos mortos...
Mas chorei pelos filmes...Pelas dores das dores do filme.

Chorei pela atuação...Chorei, pela falta de força...mais uma vez...Chorei pela tragédia...Chorei e chorei ainda por Um Lugar Chamado Notting Hill...Como posso chorar por um conto de fadas e não chorar por uma cabeça estourada por 14 tiros na esquina da rua de minha casa?

Eu chorei, também, meio que sem lágrimas...Por um motivo que só me ocorreu após ver o filme Jean Charlles...Sabia do filme. Não pude vê-lo nos cinemas...Curti a vibe pelo Selton Melo que é impagável...Falar dele é chover no molhado...Mas eu vi na atuação do Luis Miranda, algo impressionante...Absurdo o cara...E eu também chorei embora sem lágrimas...Por conta de só se falar no Selton Melo...Toda a emoção do filme está concentrada na morte trágica, na história de infortúnio do Jean Charles é claro...Mas se espalha esta emoção e se esparge mais e mais na atuação do Luis Miranda...Confira lá...

Hoje, disposto a escrever outra colcha de retalhos...Como já deixei grifado no início do texto, me surge durante a leitura do JB On Line, o colunista internacional Marcelo Ambrósio, com um comentário sobre um ataque feito pelas forças militares americanas a 15 civis iraquianos, que foi como todos os ataques feitos por eles, documentado com imagens.

Acontece que para azar deles, o documento de imagens, foi vazado por um militar que foi severamente punido – e que decerto repudiou a ação - ao contrário dos que executaram friamente a chacina que inclusive inclui a uma equipe de jornalistas, da Reuters.

Este documentário, ou seja, este documento em imagens que se tornou um documentário ao ser postado ao mundo no youtube, tem nome de “ Colatteral Murder” e pode ser visto por vocês (a ferramenta incorporação não permite a ação, foi desativada a pedidos, então, é bom correr para ver pois com certeza será mais um documento que a justiça retirará do democrático youtube).

O vídeo completo tem cerca de 40 min, rola um outro editado com cerca de 25 min...Mas o Youtube está recheado e cheio de pequenos pedaços do vídeo que variam de 3 a 9 min...

“ (...)Na avaliação dos militares, quem comandou a chacina não fez nada de errado, apenas seguiu as chamadas "Rules of Engagement". Agiram autorizados por um superior - e isso fica comprovado na cena. O que choca mais, além da impunidade da matança, é a comprovação que mesmo em um governo em tese com disposição mais democrática e menos hegemônica que o de Bush, o esprit de corps dos militares prevaleceu sobre o valor da vida iraquiana(...)”
MARCELO AMBRÓSIO, JBlog

“ (...)Mal treinada ou obcecada por um inimigo que - tal qual no Vietnã - se confunde com a população, o comandante do helicóptero e seu artilheiro identificam um grupo de civis que conversava com a equipe como insurgentes. A câmera fotográfica é identificada como uma arma. Depois de alguma insistência, o comando dá a ordem e começa a matança (...)”
MARCELO AMBRÓSIO, JBlog

Enquanto escrevo estou tentando assistir, mas este velho note, e sua pouca memória não o está carregando nem a paulada...

Mas pela descrição minuciosa feita por Marcelo Ambrosio...E em parte recortada e acima reproduzida...Eu chorei e meu dia ficou uma merda...

E eu que gritei e fiquei entusiasmado com a vitória de Barak Obama e com a esperança de todas aquelas mudanças tão sonhadas...Não fico nada bem...

Preciso largar as paixões que me assoberbam...Sair de minha realidade subjetiva.

Eia, vêio o riso...Que bom!!!!... Arturzinho, chegou da escola e invadiu o quarto/escritório/alcova...Quer ver desenhos...Eh,eh,eh!!...Só depois de tomar banho e almoçar...

(Depois de tentar fazer a melhora do texto e passar da fase de revisão (oops!). Já na hora de postar, consegui carregar um vídeo de menor tamanho (6:53min) e que permite a incorporação)

Assistam: COLLATERAL MURDER